quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Ítalo Campos no Jornal Empresários

Na edição de janeiro último, o Jornal Empresários, comandado pelos jornalistas Marcelo Rossoni e Roberto Junquilho, trouxe uma matéria impressionante sobre a criminalidade no Espírito Santo. Foram ouvidos agentes da sociedade como Júlio Rocha, presidente da Faes, Lucas Izoton, presidente da Findes, José Lino, presidente da Fecomércio, Arthur Avelar, presidente da Faciapes, Júnior Fialho, presidente do Sinpol, e o psicanalista e confrade Ítalo Campos.
A reportagem, embasada por dados levantados por um estudo recente realizado pelo Sinpol, visita as vísceras do grande monstro que é o crime e vale a pena ser lida. Os números são todos impressionantes, principalmene os referentes aos homicídios: 1.875 cometidos em 2010, o que dá uma média de cinco por dia - em 2009 a média diária beirou seis ao atingir 2.051 pessoas assassinadas no ano. Há muitas outras revelações estarrecedoras, como, por exemplo, a mentalidade de líderes que concordam que tá feia a coisa, mas, que não é só no ES, é no País todo. E ainda a inércia da polícia e da justiça, traduzida pela quantidade de inquéritos inconclusos, mandados não cumpridos e processos não julgados.
A seguir, a participação do nosso embaixador da Mãe Joana para assuntos de (in)segurança:
“Somos responsáveis e cúmplices por isso que está acontecendo e a droga, incluindo o álcool, está presente em 64% dos homicídios que ocorrem no Espírito Santo. A droga subverte o Estado, faz suas leis e cria uma forma de banalização da vida”. O psicanalista Ítalo Campos coloca o dedo na ferida e descarta a pobreza como um dos fatores determinantes da criminalidade. Para ele, existe uma inversão de valores que atinge a toda a sociedade, a partir da falência da figura mítica do pai, decorrente de uma sociedade consumista dominada pelas corporações mercantilistas. Esse cenário coloca o indivíduo como centro de tudo e o seu próximo, o outro, como competidor que precisa, muitas vezes, até ser eliminado. “É a cultura da violência”.Para Ítalo é preciso repensar a sociedade, saindo de um raciocínio superficial para penetrar na verificação efetiva do papel do Estado: “Há a necessidade de se reconstruir lugares simbólicos, apagando o descrédito imposto às figuras políticas, à função do padre, do pastor, do ancião, que estão em decadência, o que propicia o surgimento desse fenômeno”.“Precisamos sair de um raciocínio muito superficial, banal, e aprofundar esse raciocínio, verificando o papel do Estado, da religião, da escola e de outras formas organizadas de atuação na sociedade e, também, o papel dos poderes públicos”. Ele aponta que o consumidor é filho e produto dessa sociedade injusta e que é preciso executar as leis. “Não vamos fazê-lo desaparecer, prendendo-o, ou matando o traficante. Não é construindo cadeia, nem fazendo leis, elas são suficientes”, afirma. “É uma lei perversa, apenas para ficar na aparência, para atender a alguns interesses. Precisamos de leis como aquela que desceu dos céus e alguém disse que tem de ser cumprida, como os 10 mandamentos”. Para Ítalo, a liberdade exagerada gera escravidão. “O neoliberalismo, ao entronizar oculto ao narcisismo, é desastroso. Promove o indivíduo e causa o isolamento desse próprio indivíduo, vendo o outro como um competidor, que atrapalha aquilo que seria o seu sucesso. O que a sociedade moderna está fazendo é uma nova mentalidade, não importa mais a singularidade, a emoção, a poesia. Há o embrutecimento e o ser humano se aproxima mais de um robô, de um andróide, provocando apreensão e medo.

Um comentário:

  1. Concordo com o Ítalo quando afirma que grande parte das ocorrências de homissídios tem a droga como pano de fundo. Mas, avanço. A droga em si não é capaz de causar nenhum dano a mais do que o provocado na saúde do usuário e de seu convívio familiar e social. O usuário não é um agente da violência, um ou outro apela se não consegue a grana para adquirir o produto. Esta, a violência, surge e é praticada pelo tráfico pelos mais diversos motivos, desde defesa de território à disputa pelo controle de outros territórios, punição de devedores inadimplentes para exemplificação e embates com a repressão.
    Acabe-se com o tráfico e se estará automaticamente acabando com a violência ligada às drogas. Entretanto, a segunda a não querer que isso aconteça é a polícia(os primeiros são os traficantes, claro). Está lá na declaração do presidente do Sinpol, Júnior Fialho - que fez um belo trabalho produzindo o levantamento publicado pelo Empresários -, ao não concordar que a tese seja esta. Lógico, a polícia não que perder os polpudos orçamentos destinados ao combate ao tráfico.
    Se os responsáveis pelo bem-estar da sociedade quisessem, bastaria trabalhar junto ao Congresso Nacional pela regulamentação da produção e do comércio de drogas, como já há para o caso de entorpecentes, anestésicos e sedativos. O usuário, que sempre existiu e sempre existirá, compraria o produto de sua preferência na farmácia, o estado teria o controle da situação e arrecadaria impostos e, sobretudo, livraria a população da violência ligada às drogas.
    Infelizmente, não é o que se percebe e assim fica difícil.

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